domingo, 23 de novembro de 2014

SOCIEDADE DE ESQUINA

Do original Street Corner Society (1943). Pesquisa de quatro anos em North End.
William Foote Whyte pode-se dizer que foi um reformista social e decidiu pesquisar um bairro degradante de Boston, escolhendo North End, bairro pobre de população de imigrantes italianos e ítalo-americanos que denominou ao longo de sua obra de Corneville, palco de conflitos entre gangues “raciais”, especialmente italianos e irlandeses.

 Sociedade de Esquina é referência para estudos urbanos entre as décadas de 30 e 40. Ligada aos avanços de modernização dos grandes centros, Foote Whyte preocupa-se em saber mais sobre o impacto destas transformações em Corneville.

Whyte sofreu pressão de teóricos da escola de Chicago, como Louis Wirth, para incorporar em sua pesquisa conceitos como desorganização social. Ao contrário de desorganização social, Whyte achou uma comunidade hierarquizada com padrões de comportamento  e valores que não coincidiam com os das classes médias americanas.

Whyte morou três anos em North End e participou ativamente da vida das gangues e dos clubes culturais juvenis.

Entrada no campo – sua entrada no campo teve ajuda dos assistentes sociais de Corneville e que o puserem em contato com Doc, seu principal informante, e líder dos Norton, uma gangue de esquina onde se encontravam para conversar, marcar atividades ou passar o tempo.

Whyte privilegia o indivíduo-sociedade, estabelece como primeiras tarefas a hierarquização da microesfera e macroesfera. A ideia de hierarquia ocupava um papel central na obra de Whyte, sendo a base social de Corneville. Tal entendimento só foi possível mediante a observação do cotidiano.


ARGONAUTAS DO PACÍFICO OCIDENTAL

Bronislaw Malinowski foi um antropólogo inovador para seu tempo e um dos fundadores da antropologia social, trazendo outras formas de entender “o outro”. Foi fundador da escola funcionalista e deve seu funcionalismo a influência das obras de Durkheim. A partir de 1915, Malinowski decide se instalar na Nova Guiné para estudar os nativos. A obra do antropólogo relata sua experiência entre os nativos das ilhas Trobriand e o Kula, uma prática intertribal de comércio e troca de mercadorias. Os estudos de Malinowski não são limitados apenas em relatar e descrever o Kula, mas traz uma nova abordagem etnográfica moderna e inaugura a observação participante.

O FUNCIONALISMO: o conceito de função aparece como instrumento que permite reconstruir os dados aparentemente caóticos que se oferecem à observação de um pesquisador de outra cultura.

OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE: Malinowski passou a conviver com os nativos permanentemente na aldeia aprendendo a língua nativa. Instaurou a observação direta que só é possível através da convivência diária, da capacidade de entender o que está sendo dito e de participar de conversas e acontecimentos na vida da aldeia. O fundamento dessa técnica reside num processo de “aculturação” do observador que assimila categorias inconscientes que ordem o universo culturalmente investigado. Dessa maneira, atinge-se intuitivamente a realidade por meio de sua vivência da situação da pesquisa.

O trabalho etnográfico só terá valor científico irrefutável se nos permitir distinguir claramente os resultados da observação direta, das declarações e interpretações nativas através das inferências do autor, buscadas no seu próprio bom senso e intuição psicológica.
A melhor solução para os problemas era coletar dados concretos e assim fazer um recenseamento da aldeia: genealogias, desenhos, etc.

3 princípios metodológicos:
1.       O pesquisador deve possuir dados genuinamente científicos e conhecer os valores e critérios da etnografia moderna.
2.       O pesquisador deve assegurar boas condições de trabalho, o que significa viver com o grupo.
3.       Aplicar certos métodos especiais de coleta, manipulação e registro de evidência.

O etnógrafo deve apresentar a anatomia da cultura e a constituição social, deste material deve cobrir o maior número de fatos sendo uma das principais fases da pesquisa.

QUADRO SINÓTICO - deverá constar tudo o que fazem na comunidade, presentes, adereços, incluindo sua definição econômica, sociológica e cultural. Além dos quadros sinóticos são documentos fundamentais da pesquisa etnográfica: o recenseamento genealógico, mapas, esquemas e diagramas ilustrando a posse de terra, o cultivo, os privilégios da caça e pesca, etc.
MÉTODO DE DOCUMENTAÇÃO POR ESTATÍSTICA DE EVIDÊNCIA CONCRETA – cada fenômeno deve ser estudado com o maior número de exemplos possíveis e detalhado exaustivamente.

IMPONDERÁVEIS DA VIDA REAL – série de fenômenos de suma importância, como: alimentação, vestuário, conversas, conflitos, laços de amizade. Para registrar os aspectos imponderáveis da vida real a subjetividade do observador interfere de modo marcante. Para isso, o diário de campo é essencial. Também é possível participar das atividades do grupo pesquisado. 

O 18 BRUMÁRIO DE LUÍS BONAPARTE

A obra discorre sobre os acontecimentos que ocorrem entre 1848 a 1851, na França, que levaram o golpe de Estado de Luís Bonaparte, e se tornou Imperador.
Nesse trabalho são desenvolvidas teses fundamentais do materialismo histórico:
- a teoria da luta de classes e revolução proletária
- a Doutrina do Estado
- a ditadura do proletariado

O método adotado por Marx para interpretar e entender o Estado francês é a análise histórico-sociológica do momento vivido. A análise coloca no centro o conflito de classes. De um lado o Estado representado por Luís Bonaparte que dá o golpe e conquista o poder sobre o povo e do outro lado a burguesia que mantém seu poder sobre as demais classes.
 Os camponeses e a pequena burguesia se unem para reivindicar os problemas sociais considerados utópicos e surge a Insurreição de Junho. A Insurreição de Junho foi a primeira grande guerra civil da Europa entre o proletariado e a burguesia. Mais de 15 mil insurretos foram deportados sem julgamentos e mais de 3 mil foram mortos. Depois deste episódio o proletariado saiu da cena revolucionária.
Nesse meio tempo os camponeses aderiram a Luís Bonaparte.
Esta obra busca entender os conflitos, interesses de classe, as disputas entre partidos, personalidades burguesas e o proletariado.  Destaca-se o plano simbólico para o desenrolar de fenômenos sociais e em específicos os processos de dominação.

O mais interessante é que Marx propõe uma análise classista da política, mas não reducionista. Esta aparece em quatro momentos distintos da obra.
1.       Grupos políticos sem base produtiva: são advogados, escritores, fiscais que não constituem classe social na acepção marxista.
2.       A representação simbólica da classe: segundo Marx, os republicanos não eram burgueses por causa do vínculo econômico, mas sim porque partilhava uma visão de mundo comum, uma ideologia.
3.       A autonomia do Estado e sua função de classe: para Marx as revoluções aperfeiçoavam a máquina do Estado em vez de destruí-la. O estado cumpre a função objetiva de garantir a ordem material da sociedade.
4.       A dialética das formas políticas: as classes aparecem como atores que agem racionalmente. São as classes que buscam adaptar-se as condições políticas.


TRÊS MANEIRAS DE OPERACIONALIZAR A ANÁLISE DE CLASSE.
1.       A representação objetiva de classe que se faz por meio de um Estado autônomo.
2.       A representação simbólica de classe que é portadora dos interesses de classe.
3.       A representação subjetiva de classe indicando os atores na cena política.


Em 18 Brumário Marx seguiu duas formas de operacionalizar a classe como ator político através da representação simbólica e subjetiva. 

A OBJETIVIDADE DO CONHECIMENTO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS

Weber parte de três questões fundamentais para a prática científica
1.       A distinção entre juízo de valor e realidade empírica
2.       A crítica às ideias das “leis” e “conexão regular”
3.       O significado da validade objetiva ou do “tipo ideal”

A DISTINÇÃO ENTRE JUIZO DE VALOR E REALIDADE EMPÍRICA
Primeiro passo para uma investigação cientifica é o afastamento dos juízos de valor, o que para Durkheim seriam as pré-noções. Isso não quer dizer uma postura indiferente ao mundo. Juízos de valor para Weber são opiniões pessoais, são impressões da realidade e nada tem de objetividade. Há uma preocupação em Weber em declarar o juízo de valor no campo das crenças, sem validade objetiva. Pois para ele é dever da ciência esclarecer os caminhos que foram percorridos até chegar ao resultado obtido.  O juízo de valor tenta, às vezes, esconder elementos que são incômodos, o que Carl Sagan chama de pseudociência. Um juízo de valor se situa no plano da emoção para com a realidade, é um mecanismo opinativo.
O saber científico metódico, sistemático opera na busca de ver a realidade como ela é. O saber objetivo opera com pressupostos reconhecidos por toda a comunidade acadêmica.

CRÍTICA AOS MODELOS DE LEIS E CONEXÃO REGULAR
Ao comprar objeto e método das ciências sociais e naturais da natureza encontramos leis de determinadas relações casuais. Para Weber, os problemas culturais que regem a humanidade nascem a cada instante sob um aspecto diferente e variável. Não há como pensar em determinações já que os cursos e as ações são improváveis. A única lei que podemos formular é que não há lei. Weber assinala que o cientista social trabalha com padrões de regularidade e não com leis.
O SIGNIFICADO DA VALIDADE OBJETIVA OU DO TIPO IDEAL
Weber é enfático ao discorrer que não há uma total objetividade da vida cultural que possa ser empregada através da análise científica, sempre há o elemento da parcialidade nas análises sociais. Então qual é a lógica que se fundamenta e se estrutura nossa ciência? A resposta de Weber se fundamenta na construção do tipo ideal como recurso metodológico capaz de se esquivar dos juízos de valor e da subjetividade. O tipo ideal é um conceito racional construído através das ideias, com a finalidade de comparar a realidade.  A finalidade do conceito de tipo ideal é tomar consciência não do que é genérico, pelo contrario, mas das especificidades dos fenômenos culturais.


A POLÍTICA COMO VOCAÇÃO

A política como vocação foi uma palestra proferida pelo sociólogo alemão Max Weber aos estudantes da Universidade de Munique em 1919 e publicado em outubro do mesmo ano. Neste ensaio Weber funda a definição do Estado que se tornou clássica para o pensamento Ocidental, atribuindo-lhe o monopólio de violência.
A política como profissão se tornou clássica dentro da ciência política.
O Estado como detentor do monopólio de violência: Weber entende como política qualquer tipo de liderança independente de sua ação. Por ser um tema de grande abrangência dentro das ciências humanas o autor delimitou o uso do termo ao tipo de liderança exercida pelos sindicatos, associações políticas e pelo Estado. ELE RECONHECE QUE O MEIO DA FORÇA É UM MEIO ESPECÍFICO DO ESTADO.
Para Weber, o Estado é uma comunidade humana, que pretende com êxito o monopólio do uso da força física dentro de um determinado território. Assume-se como a única fonte do direito do usufruto da violência.
Para Weber, existem três formas de legitimação de dominação, são elas:
1. Dominação tradicional: os dominados são dependentes do senhor e ganham cargos ou privilégios feitos por ele.
2. Dominação carismática: os dominados obedecem em razão das qualidades excepcionais do dominador, as quais lhe conferem poder de comando.
3. Dominação racional-legal: baseia-se em um estatuto, que pode criar ou modificar normas. A autoridade do dominante decorre do ato normativo.

Viver DA e PARA a política.
Weber discorre sobre a formação do Estado Moderno e a criação de uma figura peculiar, o político profissional. Ele diferencia dois tipos de políticos, os que vivem da política e os que vivem para a política.

POLÍTICOS QUE VIVEM DA POLÍTICA: é aquele que não possui recursos materiais para a sua subsistência. Sua atuação política se confunde com ideais, luta de classes e um meio para conseguir renda.
POLÍTICOS QUE VIVEM PARA POLÍTICA: representa o tipo ideal, pois sua independência financeira é também uma independência dos objetivos da vida pública.

ATRIBUTOS DE UM POLÍTICO VOCACIONADO – a raiz da vocação está intimamente ligada a forma de dominação carismática. A este tipo de dominação que Weber discorre no texto. Os homens não obedecem ao líder carismático por normas ou leis, simplesmente porque acreditam nele. Há 3 qualidades que fazem o político vocacionado.

PAIXÃO: dedicação apaixonado a uma causa.
SENSO DE RESPONSABILIDADE: como guia de ação.

SENSO DE PROPORÇÃO: analisar os problemas com seriedade e calma.

REFLEXÕES SOBRE O HOMO SOCIOLOGICUS

Elisa Reis tenta fazer um diálogo entre as obras de Durkheim e Weber. Esse diálogo é quase inexistente dentro das ciências sociais embora os esforços para uma multidisciplinaridade estejam em voga. As abstrações do humano são estudas, segundo a autora, em fatias: na psicologia, na antropologia, na sociologia, etc. Ainda assim, no final deste milênio ganharam uma revalorização o ensaísmo e o generalismo, entrando solo fértil na tradição bacharelesca intelectual. As ciências sociais dizem respeito ao mundo da cultura e estarão eternamente condenadas a perpétua “imaturidade”.
A autora questiona quem seria o sujeito contemplado pela sociologia. Dahrendorf em 1973 tentou uma solução um tanto frustrante, fragmentando o homos sociologicus no interior da própria sociologia. Assim, o humano seria um apanhado de representações, sem face.
A abstração típica da sociologia fica a cargo do homem durkeimiano e do homem weberiano. A lógica econômica que perpassa a razão dos diversos homines tipificados pelas ciências sociais se comporta de forma análoga ao homo economicus.
O economicismo impregna todo o nosso raciocínio e impõe a abstração do homo economicus como referencial para as mais diversas disciplinas. Podemos citar como exemplo os estudos de Mary Douglas e Baron Isherwood sobre o consumo e sua crítica ferrenha ao utilitarismo na célebre obra “O Mundo dos Bens: para uma antropologia do consumo”.


HOMEM SOCIOLÓGICO DE DURKHEIM
– é um ator que se conformaria às determinações do social.
- ao se focalizar exclusivamente no impacto das condições sociais sobre os indivíduos ele se esquece de focalizar as maneiras como os indivíduos interpretam, assimilam e respondem às condições sociais.
 - Durkheim se recusa a aceitar as premissas individualistas, pois ele identifica o individuo no âmbito coletivo.
- é a sociedade que cria os indivíduos
- minha própria interpretação nesta prova seria um fato social e deveria ser tratado como uma coisa produzida pela sociedade.


HOMEM SOCIOLÓGICO DE WEBER
- o homem social é dotado de comportamento significativo
- o homem social é dividido em fatias analíticas: religião, economia, política, etc e a questão disciplinar é apenas um recurso estratégico da atividade científica.
- o modelo weberiano, como de Durkheim, critica o homo economicus.
- para Weber o próprio homem é responsabilizado perante a história de seus atos.


O MÉTODO SOCIOLÓGICO DE DURKHEIM

O método sociológico de Durkeim parte de quatro concepções:
1.       A contraposição ao conhecimento filosófico da sociedade
2.       Os fenômenos sociais são exteriores aos indivíduos
3.       Os fatos sociais são uma realidade objetiva
4.       O grupo exerce coerção sobre o individuo

Durkeim elaborou regras para seu método sociológico, são elas:
1.       Regras relativas à observação dos fatos sociais: aqui, para Durkheim os fatos sociais são tratados como coisas, para ele, “coisa é tudo aquilo que é dado, que se impõe a observação”. Neste aspecto, o cientista social é empirista, objetivista e indutivista.
2.       Regras relativas à constituição dos tipos sociais: monografias detalhadas devem ser elaboradas sobre a sociedade individualmente comparando semelhanças e diferenças e elaborando grupos e tipos sociais. Esse método é conhecido como morfologia social.
3.       Regras relativas à explicação dos fatos sociais: Comte e Spencer explicavam os fatos sociais pela sua utilidade, a vida cotidiana. Para eles os fatos sociais partiam da natureza humana. Para Durkheim isso era errado. Para o autor, não há como explicar os fatos sociais apenas pela sua utilidade, isso não ajuda a entender como eles surgiram e nem o que são.
4.       Regras relativas à administração da prova: nesse ponto, os métodos que decorriam eram experimentais, ou seja, eram produzidos artificialmente pelo observador.

O método sociológico de Durkheim não tem nenhuma vinculação filosófica e nenhuma ligação com qualquer visão de mundo ideológica. É um método que não afirma nem a liberdade nem o determinismo.
Para o autor, os fatos sociais devem ser tratados como coisas e como tais devem ser tratados.

Durkheim afirma que a sociedade tem natureza própria e que não depende da natureza humana nem das manifestações das consciências individuais. 

Os meus vazios cheios

De tanta filosofia quero água morna Correr na grama para longe de gente morta Invisíveis olhos negros, pérolas negras Me levem daqui, lon...